Chieko Aoki fundou rede de hotéis Blue Tree há mais de duas décadas | Fotos: Caroline Lima
Viaja desde cedo. A primeira grande jornada de sua vida não está em sua memória, é verdade — era criança ainda. Nessa fase muita coisa pode não ficar gravada em nossa lembrança, mas isso não quer dizer que não fique em nós de alguma forma. Ainda pequena fez uma travessia do Japão para o Brasil junto com sua família. Aqui, criou suas raízes — e o espírito viajante.
Morou em Tóquio, em países da Europa, Ásia e nos EUA. Gosta de conhecer outros lugares. Isso está nela. "As viagens são muito importantes para abrir a mente da gente. Quando você viaja, tem verdades e situações de uma outra cultura, valores totalmente diferentes, e isso é importante para abrir a cabeça, para aprendermos a não ter pré-conceito, pré-julgamento. Não gosto de pré-julgamento. Para isso, as viagens ajudam muito."
Chieko Aoki, presidente e fundadora da Blue Tree Hotels se formou em direito, mas foi na hotelaria que encontrou seu verdadeiro destino. Começou na área em 1982. Nessa época tinha uma coisa meio de fantasia no negócio. Um sonho do cliente de se hospedar em um hotel requintado e elegante. Mas Chieko logo viu que havia uma possibilidade maior ali.
"Eu vi que tinha mercado. A hotelaria era muito refinada, se vivia o glamour do turismo. As pessoas tinham um sonho de se hospedar em um hotel 5 estrelas. Hoje não mais. A hotelaria faz mais parte da vida das pessoas, e para mim hotelaria é cuidar de pessoas. E realmente a área cresceu, as pessoas começaram a viajar mais, o lazer se tornou importante na vida de todas as pessoas. Foi assim que a Blue Tree cresceu." Em 1992 abriu sua empresa e em 1997 veio a Blue Tree.
A paixão por viagens desenvolveu em Chieko interesse pelo universo do outro e oposição a qualquer tipo de preconceito
São mais de 20 anos de um negócio de sucesso. E muita coisa mudou nesse tempo. Algumas transformações ela lamenta um pouco. "O mundo realmente globalizou e é bom, mas perdeu um pouco a graça porque você não precisa ir até os países para conhecer. Para mim era mais interessante, tinha a coisa da surpresa, achava tudo maravilhoso. Hoje você chega e já sabe mais do que o povo lá. É outra forma de apreciar, a minha era a descoberta. Hoje a viagem é por curiosidade e para preencher uma expectativa", compara.
De uma forma ou de outra, ela trabalha para atender essa vontade do viajante, seja qual for. E sabe que cada hora pode ser uma coisa distinta. "Cada hóspede que vem é diferente do outro, você tem que ver como pode atender de uma forma diferente. A gente não pode padronizar. A gente padroniza algumas coisas, mas tem coisas que não queremos padronizar. Isso faz que a gente não tenha um tédio, todo dia é um dia novo. Dizem que a hotelaria é como a cachaça. Você começa a tomar e vai! Fica maníaca. E é verdade."
Maníaca. Tanto que ela gosta de tratar a coisa como uma pessoa. Desde cedo já falava na alma do negócio e na alma do cliente. Hoje isso já é comum, mas ela lembra que era um conceito um tanto esquisito na época. "Não se falava de sentimento em empresa, isso era 'coisa de mulher'. Lembro que fiz uma palestra e falei da alma Blue Tree, alma do cliente e os outros diretores, a maioria homens, olharam e falaram: 'essa mulher é louca'. Mas aos poucos vi que a sociedade foi ficando mais humanizada, começaram a falar de felicidade nas empresas, falar de coração. Então a empresa esteve à frente porque assumimos isso muito antes. E faço isso continuamente", conta.
Chieko visita e é presente em seus hotéis — são mais de 20 em todo o País — porque acredita que para transmitir esse cuidado, atenção e exigência é preciso circular mesmo. Conversa com os funcionários, olha de perto. Provr o docinho de damasco com chocolate que é oferecido no hotel. Insiste com delicadeza para que você pegue um. "Só sabe cuidar bem quem é bem cuidado", diz como um ditado popular.
Esse é o foco. Sempre com dedicação. Quando começou a dar palestras para funcionários, por exemplo, se deparou com um desafio. Não se sentia confortável e foi logo cuidar disso. Resolveu se aventurar no karaokê. "Eu não gostava. Nunca fui uma mulher muito divertida. Mas comecei a fazer palestra e você fica muito exposta, precisa ter uma voz adequada para falar, falar durante uma hora e pensei como eu ia superar esse suar frio e resolvi estudar karaokê. Cheguei à conclusão de que se posso cantar mal em público por que não posso fazer palestra? E foi assim que eu superei isso e hoje faço numa boa. Canto em casa e vou a karaokês com amigos de vez em quando. Gosto de cantar Elvis Presley, o que ninguém quer ouvir mais [risos]."
Palestrante, Chieko Aoki divulga o que é o bem cuidar — do negócio, dos funcionários, dos clientes
Se nem tanto no karaokê, Chieko sabe que em tantos outros ambientes sé muito ouvida. Por suas ideias e visão de quem comanda um negócio de sucesso. Tanto que responde com rapidez e um sorriso de canto de boca quando questionada se imaginava que sua empresa poderia ficar desse tamanho: "sim". Isso porque sempre foi atrás de ser escutada. "A gente não pode depender dos outros para ser o que a gente quer. Temos que ser através da nossa atitude. Isso é um alívio porque você sabe que o poder de transformar está na sua mão."
Hoje, para continuar com essa transformação, não perde de vista o que é importante para ela. "Cuido dos meus hotéis, divulgo o bem cuidar. Esse é um ponto importante pra mim, é meu propósito e acho que se cada um de nós pensasse mais em cuidar um do outro a gente viveria em paz." E mesmo com tantos anos de carreira não fala em planos mirabolantes para o futuro. "Vou ser aquilo que eu conseguir fazer todos os dias. Tem que ter sonho grande, sonho pode ter", conclui.
Por: RYOT Studio e CUBOCC | Fonte: Huffpost Brasil